Transcrição Ex Libris – S01e02

[Comportamento Humano] – O “cerumano” e seu meio carbonífero

Quando ações de um governo que não está nem aí para a questão ambiental panfleta uma vida melhor para seus cidadão e conquista corações e mentes. 

Olá, eu sou Sérgio Vieira e este é o episódio nº 2 da primeira temporada do Ex-Libris, um podcast rápido e ligeiro sobre Política, Comportamento Humano, Ciência, Tecnologia e Cultura. A cada episódio um tema.

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A partir de agora o Ex-Libris sobre Comportamento Humano de 21 de set de 2018 começou

E não é que o Trump reverteu as regras de poluição que Obama apresentou?

Para especialistas esta reversão do que havia sido proposto (mas ainda não implementado) atingirá de forma bastante negativa a saúde da população norte-americana.

Não sei porque mas, não me surpreendi quando soube que o presidente Donald Trump escolheu o estado de West Virgínia, ou melhor Virgínia Ocidental – região carbonífera dos EUA – para anunciar dia 21 de agosto agora o seu plano de controle de poluição para as termelétricas movidas a carvão. Plano esse que reduz as exigências contidas num plano apresentado em 2015 pela administração Obama, e que até hoje tá enrolado em questões jurídicas.

O Plano de Energia Limpa de Obama visava o dióxido de carbono, que altera o clima, mas como o carvão é a maior fonte de dióxido de carbono dos combustíveis fósseis, o plano do Obama também restringe as emissões nocivas das usinas termelétricas a carvão.

Como um bom político, no seu discurso na Virgínia Ocidental Trump teceu loas e boas ao SEU projeto e deixou uma coisinha de fora de suas declarações: o provável aumento de mortes e doenças devido ao retrocesso contido nesta regulamentação.

Os controles para mitigar as emissões, para a despoluição do ar, desde a década de 1980 praticamente extinguiram as nuvens de fuligem negra que costumavam subir das chaminés das termelétricas da Virgínia Ocidental e na Pensilvânia. Os regulamentos reduziram substancialmente as taxas de mortalidade nos arredores das minas e das termelétricas. 

Atualmente, os poluentes se elevam das chaminés como gases, carregados de finas partículas – ainda invisíveis – pequenas o bastante para passar pelos pulmões e chegar à corrente sanguínea. E aí que a coisa pega.

Um estudo da Agência de Proteção Ambiental norte-americana (EPA) diz que esses poluentes gasosos e particulados aumentariam com o plano de Trump, se comparado com o plano do Obama. E isso, diz a EPA, levaria a mais ataques cardíacos, asma e outras doenças.

Nacionalmente, a EPA diz que a nº de mortes causadas  por esta doenças serão acrescidas de 350 a 1.500 mortes a cada ano sob o plano de Trump. Mas é o norte de Virgínia Ocidental e parte da vizinha Pensilvânia as aéreas que serão mais atingidas.

Um minerador de carvão que exerce sua profissão há 35 anos não se intimida quando ouve este tipo de alerta –  logo após o comício do Trump o mineiro afirmou que:

A última coisa que as pessoas da região querem é que o governo imponha mais controles ao carvão – e o ar aqui nas montanhas da Virgínia Ocidental parece muito bom… Pessoas vieram aqui e nos disseram o que precisávamos. Nós sabemos o que precisamos. Precisamos de um emprego

Complementou o habitante da pequena cidade da região carbonífera que fica  entre duas minas de carvão e a 12 km de uma usina termelétrica movida a carvão.

Eu jurava que só por aqui na terrinha a gente tinha eleitor deste tipo.

Ainda pela EPA a proposta de Trump mataria de 1 a 2 pessoas a mais por ano para cada 100 mil nas áreas mais atingidas, sempre em comparação com o plano anterior do Obama que anda encalhado na Justiça. Para 1 milhão e oitocentas mil pessoas da Virgínia Ocidental isso daria pelo menos doze mortes a mais por ano.

O administrador da EPA, Andrew Wheeler, um ex-lobista do carvão… 

Eu sabia! A turma do Trump fez estágio aqui no Brasil, só pode…

Voltando… desculpe eu me empolguei, então… Andrew Wheeler, ex-lobista do mercado de carvão – insisto em repetir o cargo anterior –  cujo avô trabalhou nas minas da Virgínia Ocidental, foi para mesma região promover o plano do Trump. Lá ele afirmou que “o recuo do governo federal em regular a poluição causada por usinas elétricas a carvão foi uma boa ideia”.

Em Washington, o porta-voz da EPA, Michael Abboud, disse que este novo plano resultará em “reduções  dramáticas” de emissões, mortes e doenças comparando com a situação atual. 

Como bom porta-voz político, ele nem cogita em comparar o impacto com o plano proposto por Obama. 

A cerca de 160 quilômetros ao sul de Grant Town, perto de Charleston a capital da Virgínia Ocidental, uma lojista diz sorridente: 

Se Trump acha que seu plano é melhor, isso é bom o suficiente para mim. Eu apenas sei disso. Eu gosto de Donald Trump e acho que ele está fazendo a coisa certa.

A lojista demonstrou todo seu apoio a Trump no comício do dia 21 de agosto. Ela mora a oito quilômetros da usina termelétrica a carvão John Amos de quase 3 Gigawatts de potência.

O plano de Trump, dentre outros aspectos, cede aos Estados grande parte da supervisão – hoje federal – das usinas a carvão existentes. Estes mesmos Estados,  individualmente, irão decidir o que e quanto regular nas suas termelétricas. 

O plano está aberto para revisão pública, antes de qualquer decisão final da Casa Branca.

O porta-voz da EPA, Michael Abboud, e a porta-voz Ashley Bourke, da Associação Nacional de Mineração, que também apóia – ora veja – a reversão regulatória proposta por Trump, disseram que outros programas federais já regulam as emissões nocivas das usinas a carvão. Bourke também argumentou que os estudos de saúde que a EPA usou em suas projeções datam da década de 1970, quando as usinas eram muito mais “sujas”.

Em resposta, Conrad Schneider, da organização ambiental sem fins lucrativos Clean Air Task Force – que analisa as projeções da EPA para este caso – , disse que as estimativas de mortes do estudo da Agência levaram em conta a regulamentação existente sobre as emissões das usinas. 

Além disso, estudos de saúde usados ​​analisaram níveis específicos de exposição a poluentes e seu impacto na saúde humana, por isso permanecem constantes ao longo do tempo. Ou seja, se alguém morria exposto a certo nível de um poluente em 1970, nos dias de hoje você nas mesmas condições morreria.

No comício de 21 de agosto na Virginia Ocidental, Trump ainda soltou essa:

Estou me livrando de algumas dessas regras e regulamentos ridículos, que estão matando nossas empresas … e nossos empregos.

Certinho Trump… certinho.

 

O Ex-Libris, spin-off do Impressões Digitais, o podcast rápido e ligeiro sobre Comportamento Humano, acabou.

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Saúde, paz, grato pela companhia e até a próxima

Ex-Libris, inteligência com propriedade…