Transcrição Ex Libris – S01e17

S01e17 Cannabis

[Comportamento Humano] – O Pragmatismo Social 

Olha Mary Jane, como a legalidade está revigorando a economia de pequenas comunidades decadentes!

Olá, eu sou Sérgio Vieira e este é o 17º episódio da primeira temporada do Ex-Libris, um podcast rápido e ligeiro sobre Política, Comportamento Humano, Ciência, Tecnologia e Cultura. A cada episódio um tema. 

Seja bem vindo e espero que o Ex-Libris esteja atendendo suas expectativas. Diz aí… eu estou acertando? Eu preciso saber o que você acha disso aqui. 

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Começa agora o Ex-Libris sobre Comportamento Humano de 11 de dez de 2018.

Neste episódio analiso O Pragmatismo Social ou Olha Mary Jane como a legalidade está revigorando a economia de pequenas comunidades decadentes.

A cada ano nos meses de outubro a dezembro inúmeros jovens se deslocam para a região norte da Califórnia dos EUA em busca de trabalho temporário.

Você poderia pensar que são chicanos buscando mais uma lavoura que não seja a cana, ou a laranja… Mas não, a garotada vai trabalhar na colheita e apara de Cannabis sativa destinada às lojas legais de alguns estados, e claro também para os mercados ilegais de todo os Estados Unidos.

Enfurnado nas florestas do condado de Mendocino, acessível por uma estrada de duas pistas que serpenteia entre colinas, está a pequena cidade de Covelo com cerca de 2 mil habitantes, onde centenas de trabalhadores sazonais convergem todos os anos ansiosos para ajudar na colheita mais lucrativa da região – a maconha.

Esses trabalhadores conhecidos como “trimmigrants” (junção das palavras trimmer – cortador e immigrants – imigrantes), pacientemente cortam as folhas desgrenhadas e os caules frágeis dos botões de maconha, aparando cada um deles em um botão verde compacto, preparado assim para ser fumado em bongs ou ser processado para “aditivar” vaporizadores e alguns produtos alimentícios.

Algumas pessoas nem sabem que um botão precisa ser aparado. Não há arbusto perfeito, assim os cortadores fazem isso, aparam os brotos de planta. Os compradores querem apenas brotos de maconha perfeitos, que pareçam ter saído de uma linha de produção.

Aparar a erva é uma rotina diária tediosa, exigindo horas de trabalho manual. Depois de embelezados os brotos são encaminhados para a comercialização legal da Califórnia.

Milhares de jovens trabalhadores passam várias semanas, com bandejas de maconha no colo, trabalhando no chamado Triângulo Esmeralda do norte da Califórnia, um trio de condados conhecidos por cultivar grande parte da cannabis americana.

São jovens de várias nacionalidades, alguns ilegais, que assim que chegam a Covelo ficam na frente da biblioteca da cidade, assim “de bobeira”, aguardando os fazendeiros perguntarem se eles procuram trabalho.

Mas a colheita e preparo da maconha não é um serviço tão lucrativo como antes. A legalização da maconha recreativa na Califórnia e em outros estados norte-americanos inundou o mercado derrubando os preços, desanimando um pouco os produtores.

Como os riscos legais de cultivo diminuíram, a concorrência entre as fazendas corporativas e o mercado negro aumentou. Uma década atrás, a maconha era vendida por cerca de US$ 4 mil o kg, atualmente os produtores têm sorte quando recebem US$ mil por kg, e isso significa salário menor para o corte.

Os aparadores são pagos por peso, portanto, todas as manhãs a corrida é para podar o máximo possível de maconha. O aumento do cultivo da cannabis derrubou os salários de US$ 500 para US$ 250 por kg. A média por trabalhador é de quase 1kg de botão de maconha aparada por dia, cerca de US$ 200 por 9 horas de trabalho.

Às vezes, se têm sorte, os aparadores alcançam um estado de foco hipnótico enquanto cortam a aparente interminável colheita de cannabis. Alguns chamam esse estado de concentração embalado pelos movimentos repetitivos e pelo cheiro de maconha que permeia as instalações de “dimensão verde”.

Apenas cheiro sim… eles não fumam o produto da colheita durante o trabalho. A produção e o dinheiro são mais importantes que o prazer.

Um dos jovens cortadores – a maioria tem entre 23 e 28 anos – esclarece:

 “Quando você tem a erva certa, as pessoas certas em volta, a vibração certa, você não pensa em mais nada e apenas faz o que gosta por horas”.

Para se manterem firmes – e mais ou menos sãos – os aparadores da fazenda mantêm uma dieta constante de chá, música, podcasts (olha nós aí) e audiolivros, incluindo todas as 12 horas de Silmarillion de Tolkien e todo o cânone de Terence McKenna, o filósofo norte-americano que defendia o uso de plantas “psicodélicas”.

Mas o dia-a dia-não é tão na “brisa” como leva a crer este sistema de trabalho. A combinação de maconha e vizinhança ocasionalmente explode em violência. Sete aparadores foram acusados de participar do brutal assassinato e roubo de um agricultor de cannabis lá em Mendocino em 2016. Em junho de 2018, um homem de New Hampshire foi condenado por espancar um colega, trabalhador temporário, até a morte em uma fazenda de maconha de Covelo após um desentendimento sobre a cão da vítima.

De muitas maneiras Covelo é o Oeste Selvagem da erva. A cidade fica a uma hora e meia da delegacia mais próxima. Os bosques de maconha estão praticamente em todos os lugares, em estufas escondidas dentro de altas paredes de madeira e atrás de lonas pretas em casas situadas nas colinas da cidade.

Há quase uma paranóia dos envolvidos na principal indústria da cidade, principalmente pelo medo de serem assaltados. Produtores instalam câmeras e alarmes de segurança mesmo estando no meio do nada. O lugar é meio sem lei mesmo.

Se há algo que une os produtores, aparadores, justiça e agências de segurança, é a preocupação com os cartéis de drogas mexicanos. Há anos, grupos criminosos cultivam ilegalmente milhões de plantas de maconha em terras públicas e privadas na região. Para sustentar suas operações os cartéis – sempre fortemente armados – desviam água de rios e córregos e envenenam o ambiente com fertilizantes tóxicos e pesticidas, deixando para trás centenas de milhares de quilos de lixo. As autoridades gastaram milhões de dólares tentando erradicar as operações dos cartéis, que continuam a assolar a área e seus moradores.

Mas os aparadores dizem que os cartéis não são o problema principal. Uma chicana originária de Tijuana de 23 anos que começou a trabalhar com a cannabis há cinco anos – e dorme nesta temporada em um contêiner que o produtor usa para secar a maconha – tem sua cota de histórias de horror. Desde desavenças com produtores inescrupulosos que se recusaram a pagá-la; passando por uma situação onde um policial a troco de nada apontou uma arma engatilhada para sua a cabeça e depois aos berros dispensou; claro, vários casos de assédio sexual; e terminando com o desaparecimento de duas de suas amigas.

Mesmo assim, ela afirma que adora cortar maconha em Covelo, onde pode 

“ganhar milhares de dólares por temporada e conhecer jovens de países tão distantes quanto a Etiópia. É uma pequena parada mágica do universo” – disse ela

Uma outra pequena “parada mágica deste universo meio esverdeado” fica ao noroeste de Covelo, bem perto da fronteira com o Arizona e Nevada ao longo da famosa Route 66.

Needles – e seus prédios degradados – fica a oeste do rio Colorado, no Vale do Mojave, perto do famoso Vale da Morte onde sua temperatura máxima chega a 49ºC. A cidade foi batizada em homenagem aos picos pontiagudos encontrados no extremo sul da cordilheira de Sacramento, pertinho da cidade.

A histórica Rota 66 corta Needles. Esta é a estrada que levou para o oeste muitos colonos do sul da Califórnia no século 20, durante a migração da década de 1930 bem na era da Dust Bowl.

[Parênteses]

Explicando o que foi o Dust Bowl: Este foi o nome dado ao fenômeno climático que gerou uma série de tempestades de pó e areia que varreram as High Plains (ou Planícies Altas que abrangem estados como Colorado, o Kansas, Nebraska, Montana, Novo México, Oklahoma, Texas e Wyoming) bem na década de 1930 e que durou quase 10 anos. Foi um enorme desastre econômico e ambiental que afetou severamente todo os Estados Unidos. Na realidade o evento ocorreu em três épocas distintas (em 1934, em 1936 e entre 1939 e 1940), mas algumas dessas regiões experimentaram condições de seca por quase 8 anos. As tempestades de areia foram provocadas por anos de práticas inadequadas de manejo do solo, o qual se tornou susceptível às forças do vento, provocando uma seca induzida pelo alto nível de partículas de solo suspensas no ar. O solo, despojado de umidade, era levantado pelo vento em grandes nuvens de pó e areia tão espessas que escondiam o sol durante vários dias. Esses dias eram conhecidos como “brisas negras” ou “vento negro”.
Curiosidade: No filme interestelar o depoimento das pessoas sobre o período das tempestades de areia e pó são reais e referem-se aos anos 1930 nos Estados Unidos.

[Fechando os Parênteses]

Needles foi o primeiro entroncamento de trens de carga com destino a Los Angeles no século 19. Isso criou centenas de empregos. Needles também foi, literariamente, a primeira parada na Califórnia da família Joad no clássico de John Steinbeck “The Grapes of Wrath” (As vinhas da ira).

Mas, como muitas outras pequenas cidades a caminho de Los Angeles, mesmo histórica, Needles perdeu a sua importância. A estrada de ferro diminuiu os trens e as equipes, e o seu elegante edifício agora depósito está quase vazio.

Needles perdeu sua última mercearia em 2014. Mais de 25% dos moradores dela viviam abaixo da linha da pobreza então. Pouco a pouco, os empregos e as pessoas estavam partindo.

Jeff Williams, o novo prefeito, prendeu muita gente por vender maconha em seus dias como xerife do condado. Ele votou contra a legalização do uso da maconha no referendo estadual de 2016. Mas Williams também sabe que sua cidade já viu dias melhores.

Os empregos na estrada de ferro desapareceram em sua maioria. E as pessoas não passam mais na antiga Rota 66 como costumavam fazer.

Nota: ainda nas referências cinematográficas, qualquer semelhança até aqui com o enredo da animação Cars da Disney não é coincidência.

Então…  Williams, de 54 anos, tornou-se o improvável líder do esforço mais improvável ainda de transformar Needles em um novo tipo de cidade industrial dedicada ao crescente negócio da cannabis.

“Se uma pequena comunidade como esta não está crescendo, ela está morrendo, e é isso que justifica o que estamos fazendo” – disse Williams


O Conselho da Cidade nesta sólida e fervorosa comunidade republicana de 5 mil almas aprovou 81 permissões para negócios de cannabis desde 2015. Quatro lojas legais estão manipulando e vendendo maconha ao público, cerca de 100 vezes o número de lojas por pessoa em todo o estado.

Quase todos os quarteirões de Needles têm um prédio em ruínas que está sendo convertido em uma instalação de cultivo ou para a fabricação de óleos e produtos comestíveis derivados da cannabis. Se todos os projetos se concretizarem as autoridades locais esperam que eles gerem cerca de 2.100 empregos. Bem mais do que Needles têm no momento.

É difícil encontrar alguém na cidade que não esteja envolvido na indústria da maconha.

No primeiro mandato de Williams como prefeito de 2006 a 2010 (ele também foi membro da Câmara Municipal por 4 anos), ele tentou atrair a indústria solar. Quando isso falhou, ele vislumbrou uma oportunidade na maconha quando um amigo o questionou sobre a possibilidade de abrir uma loja de venda legal… em Needles.

Williams falou com muita gente, de professores a cientistas, sobre os possíveis benefícios e lentamente superou parte da antipatia em relação à droga que seus pais e seus anos como policial haviam instilado.

 “Foi como manobrar um navio petroleiro. Foi um longo processo” – Disse ele em uma entrevista recente.

Williams, que ainda não fumou maconha, trabalhou com a administração da cidade e advogados para montar uma legislação que impunha um imposto de 10% sobre os negócios de cannabis. Ela foi aprovada com 81% dos votos.

Nota-se que mesmo sendo muito conservadora politicamente – e mesmo com Trump na presidência – a cidade passa por uma onda de libertarismo.

As primeiras lojas de venda de produtos oriundos da cannabis da cidade ainda enfrentam a oposição, especialmente das igrejas evangélicas locais. Mas elas (as lojas, não as igrejas!) não conseguiram atrair a bandidagem que alguns esperavam. O crime tem se mantido estável nos últimos anos.

No restaurante mais antigo da cidade, uma pequena loja de souvenirs agora oferece bandeiras com a folha de maconha e placas comemorativas para a Rota 420, um código associado há tipos e entrega de maconha, juntamente com as antigas recordações da Rota 66.

Mesmo com a legalização da venda de maconha para uso recreativo por adultos a maioria das comunidades ainda não adotou as políticas de Covelo e Needles porque o uso recreativo da cannabis ainda é ilegal sob a lei federal.

Várias cidades da Califórnia com dificuldades econômicas aproveitam a oportunidade. Needles tem concorrência, além da cidadezinha de Covelo, de outras como Desert Hot Springs e Adelanto.

Com a produção e comercialização da cannabis surgiram alguns problemas. Meses depois da abertura das primeiras lojas em Needles, elas foram invadidas por agentes federais. Nenhuma acusação foi feita, mas os produtos apreendidos nunca foram devolvidos.

As autoridades federais recentemente prenderam funcionários públicos em Adelanto e os acusaram de dar permissões de manipulação e venda de maconha em troca de subornos e favores pessoais. O processo, “tá rolando”…

“Quando você abre a sua comunidade e diz: ‘Este é um lugar aberto para todos, entre,’ você corre perigo” – Disse um ex-prefeito de Adelanto que agora trabalha como advogado representando alguns dos funcionários acusados.

Os funcionários públicos de Needles estão bem conscientes dos seus riscos. Eles estão proibidos de aceitarem uma xícara de café que seja das empresas locais, e passam por testes regulares anti-doping.

Os funcionários públicos sabem que a indústria é tão importante para o futuro da comunidade que simplesmente não podem se dar ao luxo de estragar tudo.

Em uma reunião da Câmara Municipal em novembro de 2018, três dos cinco itens da agenda estavam relacionados à cannabis. Ninguém se opôs.

A maioria dos que se manifestaram eram donos das lojas de maconha, que pediam à polícia que adotasse uma linha mais dura sobre as vendas ilegais de drogas e o único momento de hesitação sobre a cannabis veio quando um dos vereadores propôs que a cidade abrisse as inscrições para uma quinta loja.

Os donos das 4 lojas existentes e presentes à reunião simplesmente disseram… NÃO. A maioria os acompanhou.

Lyn Parker, ex-professora, e secretária da câmara de comércio da cidade, disse que: 

“A maconha não foi a escolha que a maioria de seus membros teriam aprovado primeiramente. Mesmo assim, eles acataram a saída encontrada. Nós gostaríamos de uma pequena indústria aqui em vez disso? Claro! Mas nós vamos nos agarrar a qualquer coisa para ajudar a nossa cidade”.

Mas a oposição ferrenha permanece. Thomas Lamb, o pastor da Assembleia de Deus de Needles, disse que viu a maconha se tornar um problema maior para as crianças na escola primária que ele supervisiona.

Para apimentar a ira do pastor uma empresa de cannabis fez uma oferta para compra da propriedade de sua igreja e de sua escola, a qual foi veementemente negada.

“As pessoas que entraram em Needles querem comprar todas as propriedades disponíveis, incluindo nossa igreja, para fabricar seu produto. Francamente, isso é um pouco assustador” – Disse ele

As lojas que vendem cigarros de maconha e vapes pens (cigarros eletrônicos) são apenas uma pequena parte do negócio que a cidade imagina. Espera-se que muito mais dinheiro dos impostos venha de empresas que estão crescendo e fabricando produtos de maconha para outras partes do estado, como Los Angeles, onde as permissões para cultivo são muito mais difíceis de conseguir.

A proximidade da cidade ao Rio Colorado fornece uma fonte constante da água que as operações de maconha precisam. E Needles possui sua própria concessionária de energia elétrica, o que permite oferecer eletricidade a cerca de 1/4 do custo das cidades que dependem de serviços públicos. Isso é importante para o cultivo de maconha em ambientes fechados sob luzes artificiais.

A Vertical Companies, uma grande produtora de cannabis com sede perto de Los Angeles, comprou cerca de 30 acres em Needles. Tem uma planta industrial na periferia da cidade, com 3 novos edifícios e planos para mais 3.

Dois dos prédios abrigam 2 andares para o cultivo das plantas. O outro edifício é dedicado a instalações de produção, onde o cannabidiol e outros produtos da cannabis são extraídos laboratorialmente.

A Vertical também está transformando um velho Kentucky Fried Chicken na Rota 66 em uma cozinha para doces e assados feitos com óleos de maconha.

A indústria de cannabis deverá se tornar a maior geradora de receita fiscal na cidade. Já criou 350 postos de trabalho e parece ter levado a uma revitalização dos preços dos imóveis, que subiram nos últimos 2 anos depois de uma queda constante durante 9 anos seguidos. A Starbucks recentemente concordou em abrir sua primeira filial em Needles.

O principal perigo é a rápida expansão da indústria de cannabis em todo o estado, o que tende a diminuir os preços da maconha e tornar as pequenas instalações de Needles não rentáveis.

Enquanto a legalização do uso medicinal e recreativo da cannabis revigora pequenas comunidades em alguns estados norte-americanos ela provoca um outro tipo de movimento muito mais poderoso.

Aqueles que se preocupavam com a saúde dos norte-americanos devem ter se regozijado em novembro agora de 2018, quando o Centro de Controle e Prevenção de Doenças deles lá anunciou que as taxas de fumantes haviam caído para o seu menor nível na história registrada.

Apenas 14% dos adultos norte-americanos fumaram cigarros em 2017, em comparação com cerca de 42% em 1965. A tendência é uma benção para a saúde pública, mas para as empresas de tabaco isso é um desastre.

Em 7 de dezembro, a Altria, uma gigante do tabaco que vende os cigarros Marlboro, Philips Morris e outros nos EUA, apontou para uma possível solução. Anunciou que estava gastando US$ 1,8 bilhão para comprar uma participação de 45% da Cronos Group, uma empresa de cannabis canadense, com a opção de comprar mais 10% no futuro. A notícia impulsionou os preços das ações da Cronos em 29% na hora; a Altria também subiu, mas só 2%.

Como a demanda por cigarros cai a cada dia, a Altria aumentou seus preços e cortou custos para tentar gerar lucros. Uma mudança para a cannabis, que foi recentemente legalizada no Canadá, não é uma solução rápida, mas as perspectivas de longo prazo para o mercado, se e quando a droga for mais amplamente legalizada na América, são tentadoras.

Atualmente, nas Américas a cannabis é legal apenas no Canadá, no Uruguai e em dez estados norte-americanos. Agora em dezembro, Utah, ultraconservador, tornou-se o mais recente dos estados a legalizar o uso de maconha para fins medicinais.

De acordo com a Arcview Market Research, uma empresa de investimentos focada em cannabis, espera-se que os consumidores gastem US$ 57 bilhões ao ano em todo o mundo com a maconha legal até 2027. E na América do Norte, esse gasto deve crescer de US$ 9,2 bilhões em 2017 para US$ 47 bilhões em 2027.

Alguns calculam que o mercado total pode chegar em algo entre 40 e US$ 70 bilhões anuais, o equivalente aos gastos dos Estados Unidos com vinhos e destilados atualmente. As receitas da Altria em 2017 foram um pouco acima de US$ 25 bilhões.

O sucesso do movimento da Altria dependerá em parte de como as pessoas decidam consumir cannabis no futuro. A maioria ainda a fuma de maneira convencional. Nos estados em que é legal, a participação de mercado da flor de cannabis, tipicamente enrolada em um baseado, é de 60 a 65%.

Os produtos comestíveis de cannabis e vapes pens (o cigarro eletrônico) representam atualmente cerca de 10 e 15% respectivamente, de acordo com a empresa de pesquisa Sanford C. Bernstein.

Vaporizadores também significariam oportunidades de branding, que no passado foram cruciais para o sucesso das empresas de tabaco, mas que é impossível quando se vende maconha ilegal e solta.

A tendência para o cigarro eletrônico explica porque a Altria também planeja adquirir a JUUL, empresa que possui cerca de 75% do crescente mercado de cigarros eletrônicos dos Estados Unidos. A Altria disse que vai parar de vender seus próprios cigarros eletrônicos MarkTen e Green Smoke, citando seu fraco desempenho financeiro e regulamentação cada vez mais onerosa.

Em 2018, a Food and Drug Administration (FDA) anunciou restrições aos vapes e discutiu a proibição dos cigarros mentolados (os cigarros mentolados da Altria estão um pouco abaixo de 30% do mercado). Os produtos de cannabis podem enfrentar regras semelhantes.

Enquanto isso, a indústria de bebidas também está de olho no potencial da cannabis. A Constellation Brands, cervejaria da Corona, investiu cerca de US$ 4 bilhões, em agosto de 2018, na Canopy Growth, outra empresa de maconha canadense elevando sua participação de 9,9% para 38%. Os produtores de bebidas alcoólicas são menos difamados que os vendedores de cigarros. Mas as guloseimas de cannabis são mais lentas para fazer efeito do que os vaporizadores.

Comprovando as expectativas do mercado norte-americano, acaba de ser divulgado que a cannabis sativa está sendo cultivada perto de Ruatoria, na Nova Zelândia. Uma lei aprovada este mês facilita as restrições à maconha medicinal no país.

A Nova Zelândia é conhecida por suas campanhas de turismo enfatizando o país limpo e verde, e em pouco tempo pode ser “ainda mais verde”.

O Ministro da Justiça Andrew Little anunciou que um referendo será realizado em 2020 (junto com a eleição nacional) para definir a legalidade do uso recreativo da cannabis.

Parece que a Nova Zelândia será o primeiro país a colocar a questão em votação nacional.

A política pública na Nova Zelândia tornou-se mais favorável ao uso recreativo da cannabis nos últimos anos; uma pesquisa de outubro de 2018 da OneNews descobriu que 46% dos entrevistados eram favoráveis ​​à legalização da droga, enquanto 41% eram contra. A pesquisa questionou 1.006 eleitores elegíveis e teve um erro de margem de amostragem de 3,1%.

Audrey Young, veterana comentadora política do New Zealand Herald, disse que 

“A opinião pública está se movendo em direção à liberalização, e isto se deve ao avanço do uso legal da cannabis medicinal e principalmente pelo sentimento coletivo de opinião global de que a guerra contra as drogas está perdida e que a abordagem como questão de saúde pública é a única saída”.

Números do Ministério da Saúde da Nova Zelândia disseram que, em 2015, cerca de 8% das pessoas reconheceram ter usado cannabis no ano anterior. O uso pessoal em pequena escala é amplamente ignorado pela polícia, embora, como nos Estados Unidos, os estudos tenham mostrado que as minorias são mais propensas a serem presas e processadas por isso.

A Nova Zelândia também é conhecida como sendo socialmente liberal, com governos anteriores tendo descriminalizado a prostituição e legalizado o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Mas nenhum dos dois maiores partidos, o Trabalhista de centro-esquerda – que lidera o atual governo – ou o Nacional de centro-direita, estiveram anteriormente dispostos a abordar a questão da maconha recreativa.

O Partido Trabalhista foi obrigado a negociar após as eleições de setembro de 2017, onde nenhum dos 2 principais partidos conseguiu assentos suficientes para governar de imediato.

Para ganhar o apoio do Partido Verde de esquerda – um dos dois partidos que deram à primeira-ministra Jacinda Ardern a maioria que ela precisava para governar – o Partido Trabalhista concordou em colocar a legalização da maconha em votação pública.

“Os políticos formam o grupo mais avesso ao risco que já conheci” – Disse Chlöe Swarbrick, uma parlamentar do Partido Verde que defendeu a legalização da cannabis. 

“Não havia anteriormente a vontade de investir em políticas baseadas em evidências principalmente sobre questões controversas como a maconha” – Disse ela.

Qualquer hesitação que as maiores corporações dos Estados Unidos ou políticos neozelandeses tiveram até agora sobre entrar no mercado de cannabis parece estar desaparecendo. 

Ou seja, quando uma justificativa financeira ou política mostra-se excelente o pragmatismo – seja ele econômico norte-americano ou político neozelandês –  sobrepuja qualquer ideologia por mais conservadora que seja.

O Ex-Libris, um podcast rápido e ligeiro – às vezes – sobre Comportamento Humano, acabou. 

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Ex-Libris, inteligência com propriedade.