Transcrição Ex Libris – S01e08

[Ciência] – Surto de sarampo afeta a Romênia em meio a baixas taxas de vacinação

Como de uma farsa financeira causa a uma situação de alerta mundial de custos inimagináveis tanto em dólares como em vidas humanas.

Olá, eu sou Sérgio Vieira e este é o 8º episódio da primeira temporada do Ex-Libris, um podcast rápido e ligeiro sobre Política, Comportamento Humano, Ciência, Tecnologia e Cultura. A cada episódio um tema. Seja bem vindo e espero que esteja gostando do Ex-Libris. Aguardo comentários e sugestões, afinal eu preciso saber se estou no caminho certo. Para tanto, basta dar um pulo lá no idigitais.com. 

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Começa agora o Ex-Libris sobre Ciência de 12 de out de 2018

Um surto recente de sarampo matou dezenas de bebês e crianças na Romênia, um país com 20 milhões de habitantes.  Algo como a grande São Paulo em termos populacionais. E o surto continuava nos meados de setembro com cerca de 200 novos casos registrados a cada semana.

Mas o surto de sarampo não é privilégio da Romênia. Esta doença e algumas outras muito perigosas, como a poliomielite voltaram, não na África – que nunca se livrou delas a contento – mas na Ásia, na Europa, na Oceania e agora na América do Sul. 

Os médicos romenos – fazendo eco aos seus colegas do mundo inteiro – afirmam que o aumento da doença é decorrência das baixas taxas de vacinação. Algumas celebridades romenas realizaram campanhas na mídia alertando sobre os perigos da falta de imunização, mas superstições que sustentam que tomar suco de repolho ou não limpar a casa são tão eficazes quanto tomar a vacina, deixam os médicos desesperados, tanto quanto os seus pares brasileiros que não sabem lidar com as pessoas que acreditam mais nas informações que recebem pelo whatsapp de amigos e familiares do que nas campanhas do governo e noticiários de tv.

Bem, voltando à Romênia… Alguns médicos tem sinalizado que em algumas regiões e momentos não há estoque suficiente de vacinas. O que não ajuda em nada o controle, a inoculação e a proteção das áreas afetadas. Alexandru Rafila, chefe de laboratório do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas de Bucareste, disse à Associated Press, que a doença altamente contagiosa se espalhou mais rápido porque milhões de romenos trabalham no exterior, expondo-se a diferentes cepas do vírus. Quando voltam para casa iniciam um processo com multi-vetores em diferentes regiões. Ele disse que a doença apareceu pela primeira vez em uma comunidade de ciganos no noroeste da Romênia em 2016. Afirmou ainda que a cepa da doença era estranha à Romênia, mas frequentemente encontrada na Itália.

Cerca de 13.700 pessoas na Romênia contraíram sarampo desde o início da epidemia em 2016, e 55 morreram, segundo o Centro Nacional de Supervisão e Controle de Doenças Transmissíveis. A Organização Mundial de Saúde recomenda um nível de vacinação de 95%; a Romênia tem uma das taxas mais baixas da Europa – menos de 84%. O Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças disse que o número de casos de sarampo em todo o continente triplicou no ano passado, com a Romênia, a Ucrânia e a Itália sendo os países mais afetados.

Médicos como Alexandru também se deparam com celebridades como Olivia Steer, uma personalidade da televisão romena, que promoveu publicamente uma postura anti-vacina. Viu Jim Carrey que merda você ajudou a fazer! “Infelizmente, há um apetite por algo sensacional”, disse Alexandru. “As pessoas que se opõem à vacinação são promovidas (na mídia) de uma forma que, digamos, é antiética”. A celebridade citada pelo médico, Olivia Steer se recusou a falar sobre seus pontos de vista anti-vacina  com a imprensa internacional.

Aquela velha e antiga pesquisa falsa publicada há 20 anos que ligava a vacina ao autismo foi desacreditada, mas o susto deixou algumas pessoas desconfiadas, disseram médicos romenos. Caso você não saiba que raio de pesquisa falsa é essa falarei rapidamente sobre ela no final deste podcast. 

Em Chitila, uma pequena cidade ao norte de Bucareste, a pediatra Daniela Stefanescu enfrentou a desconfiança de inúmeros habitantes na sua tentativa de vacinar  bebês contra sarampo e caxumba. Stefanescu disse que o alto número de mortes por sarampo fez com que as pessoas da região que a princípio se mostraram céticas, reconsiderassem sobre a possibilidade de vacinação. Stefania Pena, 28 anos, uma das pessoas reticentes acabou imunizando seu filho de 1 ano, apesar de ter dúvidas, afirmou: “Eu li sobre crianças que morrem de sarampo e fiquei com medo”.

Enquanto isso aqui no Brasil… Até 3 de setembro, foram 1.579 casos de sarampo confirmados em todo país. O Brasil enfrenta dois surtos de sarampo: no Amazonas que já computa 1.232 casos e 7.439 em investigação, e em Roraima, com o registro de 301 casos da doença, sendo que 74 continuam em investigação. Entre os confirmados em Roraima, alguns são de pessoas oriundas da Venezuela. Estes surtos estão definitivamente relacionados à importação, já que o genótipo do vírus (D8) que está circulando no país é o mesmo que circula na Venezuela, país que enfrenta um surto da doença desde 2017.  Alguns casos isolados e relacionados à importação foram identificados nos estados de São Paulo (2 casos), 18 casos no Rio de Janeiro; 18 também no Rio Grande do Sul; 2 casos em Rondônia, 4 em Pernambuco e 2 no Pará.

O Ministério da Saúde permanece acompanhando a situação e prestando o apoio necessário aos Estados. Cabe esclarecer que as medidas de bloqueio de vacinação, mesmo em casos suspeitos, estão sendo realizadas em todos os estados. Até o início de setembro, no Brasil, foram confirmados 8 óbitos por sarampo, sendo 4 óbitos no estado de Roraima (3 estrangeiros e 1 brasileiro) e 4 óbitos no estado do Amazonas (todos brasileiros, sendo 2 do município de Manaus e 2 do município de Autazes). Até o início de setembro, a média nacional de vacinação era de 76%. Em todo o país, 11 estados estavam abaixo da média nacional de cobertura vacinal da Campanha de Vacinação Contra a poliomielite e sarampo. O Rio de Janeiro estava com o menor índice de vacinação, seguido por Roraima, Distrito Federal, Pará, Amazonas, Acre, Bahia, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Piauí e São Paulo. A orientação foi para que os gestores locais fizessem a vacina ser aplicada mais rapidamente possível em mais de 2 milhões de crianças de 1 a 5 anos incompletos, que até meados de setembro não haviam sido protegidas contra sarampo e poliomielite. Esses 11 estados intensificaram suas ações de vacinação para alcançar a meta da campanha, de vacinar 95% do público-alvo. É só por meio da vacinação que pode-se impedir que doenças já eliminadas retornem ao Brasil.

Ainda no início de setembro o estado do Amapá atingiu a meta do Ministério da Saúde, de vacinar 95% do público-alvo. As capitais Macapá e Porto Velho superaram a meta da campanha. Macapá vacinou 100,3% para pólio e 99,8% para o sarampo e Porto Velho 98,3% pólio e para sarampo. Já Manaus, que iniciou a vacinação antes devido o surto de sarampo na região, já atingiu a meta de vacinação para a doença com 103% de cobertura.

Preciso explicar o porque do índice ser superior a 100%.? Lembra que a vacina era pra crianças de 1 a 5 anos incompletos… pois bem, se vacinou criança com mais de 5 anos, passou de 100%

Então sobre o caso que originou essa onda anti-vacina: Há 20 anos, em 1998, um médico britânico Andrew Wakefield – consultor honorário em gastroenterologia experimental no London’s Royal Free Hospital  – afirmou em uma pesquisa publicada na revista The Lancet – que se provou fraudulenta – que a vacina contra sarampo, rubéola e caxumba (MMR) tinha relação com o desenvolvimento de autismo em crianças. Muito dinheiro em novas pesquisas e muitas  declarações ponderadas depois comprovando a fraude da pesquisa original não foram suficientes para aplacar a boataria da época, as teorias de conspiração que se seguiram, nem a desconfiança atual de milhões de pessoas. Mesmo com a divulgação em 2004 da descoberta, que antes da publicação do artigo na Lancet, em 1998, o safado do Andrew havia feito um pedido de patente para uma vacina contra sarampo que concorreria com a MMR. Tadá!

A revista The Lancet publicou uma retratação só em 2010 por conta do artigo, e só depois do Wakefield ter sido considerado, também em 2010, “desonesto” enquanto realizava a pesquisa e por isso condenado a perder seu registro de médico por má conduta profissional pelo Conselho Geral de Medicina britânico (parece nosso brasilzinho, né?).

Então, você que ouve podcasts, é antenado, se informe sobre as campanhas e estruturas de vacinação e leve a palavra, ou melhor, explique para aquela mãe renitente a importância da vacinação e como deve fazer para garantir a segurança de seus filhos. Por fim, jamais tente explicar isso para um pai, ele nem sabe onde é o posto de saúde e nunca sabe onde está a carteira de vacinação.

O Ex-Libris, spin-off do Impressões Digitais. Um podcast rápido e ligeiro sobre Ciência, acabou. Se você gostou do Ex-Libris faça como a AMB3 Gestão Ambiental, ajude este podcaster a divulgá-lo e a mantê-lo. Lá no site idigitais.com você tem mais detalhes sobre como o fazer isso. Você pode ainda ajudar o Ex-Libris dando umas estrelinhas lá no iTunes, palmas no anchor.fm e nos outros agregadores nos avalie do jeito que eles permitem. Isso ajuda muito a manter este podcast.

Saúde, paz, grato pela companhia e até a próxima

Ex-Libris, inteligência com propriedade.