Transcrição Ex Libris – S01e07

[Comportamento Humano] – O pensamento neopentecostal na sublimação de extremos.

Nada como o amor cristão demonstrar verdadeiramente sua face social e os seus caminhos na defesa da moral, família e bons costumes, e a ética que se lasque.

Olá, eu sou Sérgio Vieira e este é o 7º episódio da primeira temporada do Ex-Libris, um podcast rápido e ligeiro sobre Política, Comportamento Humano, Ciência, Tecnologia e Cultura. A cada episódio um tema. Seja bem vindo e espero que goste do Ex-Libris. Aguardo comentários e sugestões, afinal eu preciso saber se estou no caminho certo. Para tanto, basta dar um pulo lá no idigitais.com. 

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Começa agora o Ex-Libris sobre Comportamento Humano de 09 de outubro de 2018

Nada mais maluco que pastor evangélico apoiar Jair Bolsonaro… ou não?

Nestas últimas décadas desde a redemocratização e o crescimento vertiginoso das igrejas neopentecostais, tanto do seu matiz – digamos – administrativo como do seu pragmatismo e envolvimento político, foi possível observar um movimento coordenado do cristianismo dito evangélico ou protestante em dois momentos distintos:

O primeiro foi na grande polarização onde o país se dividiu entre os que defendiam Lula e os que defendiam Collor lá nos idos de 1989, em nossa 1ª eleição direta após uma sufocante e voraz ditadura militar. Muitos pastores defenderam publicamente ambos os candidatos, e era visível um apoio mais envergonhado ao Collor e um mais entusiasmado no Lula por entenderem que o metalúrgico era uma melhor opção para os pobres. Nenhum dos seus defesores foi achincalhado ou defenestrado pelos seus pares. De lá para cá, a realidade mudou demasiadamente e parece que só tende a piorar.  

O segundo movimento – vigoroso, perfeitamente visível agora, resultante de um processo firme e eficiente de estruturação de um poder evangélico de viés político, com ramificações em todos os setores estratégicos, das comunicações à indústria, das confederações nacionais  ao Senado – patrocina e fomenta uma dicotomia a quem pintam como ideológica, mas como sempre, não passa de pura propaganda. Vários pastores – das tribunas de seus cargos políticos e de seus púlpitos – exortam seus rebanhos ao voto maciço para quem defende e enaltece torturadores, apoia e propaga discursos de ódio a desfavorecidos ou de outro sexo, renega a existência da ditadura e apoia estado de exceção, isso para falar o mínimo.  

Desde a ascensão de movimentos heterodoxos como o dos neopentecostais, que se firmam mais na avaliação literal da bíblia fundamentados em uma metodologia de cobrança financeira e troca teológica, o “caldo” do ódio dentro das igrejas começou a entornar.  Duas dessas escolas de gestão de igrejas evangélicas, que chamo de teologias rasas, filhas dos cultos  neopentecostais importados dos Estados Unidos, são o triunfalismo e a teologia da prosperidade. Ambas têm grande responsabilidade sobre o pensamento e os discursos de ódio propagado pelos chamados ‘cristãos modernos’.

A chamada “teologia da prosperidade” nega qualquer tipo de sofrimento comum a que o homem nesta terra, inevitavelmente, esteja submetido. Culpa o pobre pela sua pobreza, o doente pela sua doença, o inválido pela sua invalidez. Contraria um simples ensino gravado nos evangelhos tão sagrados aos seus fiéis, quando com simplicidade ímpar Jesus diz que “…faz que o seu sol se levante sobre os maus e bons, e a chuva desça sobre os justos e injustos.” (Mateus 5:45). Também não explica como o apóstolo Paulo, um dos homens da Bíblia de maior fé, sofria e era pobre (II Coríntios 6:10).

Irmã dessa escola nefasta, o triunfalismo advoga que os cristãos têm que dominar o mundo presente, atuando na política, na economia, nas artes, nos negócios a fim de que o cristianismo triunfe sobre as demais religiões e estabeleça o “governo do justo”, impondo os princípios ditos cristãos ao mundo, rivalizando com o estado laico que o próprio protestantismo reformado da Europa ajudou a criar. E tome bancada evangélica no Congresso… Esse ensino se contrapõe de maneira muito clara ao evangelho cristão, quando o próprio Jesus, novamente, ao ser inquirido por Pilatos, disse: “O meu Reino não é deste mundo” (João 18:36). Mas você crê que eles estão se importando com tais incongruências entre a teoria e a praxis por eles mesmos defendidas?

Toda essa falsa doutrina, como já disse, importada dos Estados Unidos, apenas comprova a teoria de que uma boa teologia é destilada na Alemanha, envelhecida na Inglaterra, apodrecida nos Estados Unidos e consumida nos países subdesenvolvidos do hemisfério sul. Por isso, é necessário mostrar as contradições do atual discurso do “cidadão de bem”, “conservador”, “cristão” e “defensor da vida” e da “família tradicional” em relação ao simples e puro texto que eles tanto santificam, prezam, divulgam, decoram e repetem exaustivamente a todos e a qualquer um, queira este ou não. Mas basta apenas comparar o texto do Evangelho com as atuais falas de ódio? Será que é assim que são desmascarados aqueles que usam a massa ignorante evangélica como palanque e lastro para seus projetos de poder? Não sei… como fazer com estes “cristãos conservadores”, tão apegados a frases como: 

  • “bandido bom é bandido morto”, 
  • “tem é que prender mais e não dar direito algum a vagabundo” 
  • “cota jamais” 
  • “quem defende criminoso é vagabundo”.

A raivosidade extrema, o ódio dos que responsabilizam o outro lado (que por sinal estava morto, abandonado, totalmente desacreditado e quase extinto) por todas as dores e sofrimentos existentes neste vale de lágrimas que se tornou nossa sociedade, é uma doença do espírito. Obnubila a inteligência, produz fanatismo e estupidez, e induz as almas incautas ao mais relinchante bolsonarismo.

Querem prova de que a raivosidade fomentada pelos evangélicos à ala progressista – defensora do estado laico, do pessoal mais à esquerda do pensamento econômico – é estúpida e autodestrutiva? Bastam duas evidências:

O primeiro grande feito do extremismo apoiado inflamadamente pelos líderes evangélicos nesta eleição foi aniquilar as candidaturas de direita e de centro. Acabou… tudo virou pó. Ou melhor, aqueles que desde o regime militar apoiam fisiologicamente (portanto não dá pra falar se esquerda ou direita) qualquer um, estão salvos e ilesos. Saíram da alça de mira… Sarneys, Jucás, Calheiros, Magalhães, Nogueiras, até o Dória… todo mundo na surdina… uns não foram eleitos, outros foram. E para piorar, o que havia de bom nas hostes centristas, foi de roldão. Todas as agendas voltadas para uma substituição construtiva e consequente da hegemonia petista foram asfixiadas pela ânsia “moral” e pela pauta feroz da extrema-direita. O inerte PSDB – desde 2002 – tentou vestir esta indumentária, agora, no Picolé de Chuchu e não deu muito certo. Quem diria, a direita destruiu o PSDB… A turma defensora da Escola sem Partido, que identifica qualquer traço de propósito ou postura fora da agenda evangélica cristã a determinação de um petralha, seja este eleitor do Ciro ou da Marina – não identifica a crise econômica e os problemas sociais, como o grande problema brasileiro, mas sim um grave problema é a erotização das crianças, a homossexualidade – eu adoro quando eles citam sem saber ao certo o que seja que são contra a ideologia de gênero – e também é um problemão essa mania de as mulheres pensarem que são iguais aos homens. 

Em segundo lugar: o radicalismo desse pessoal é tão burro e tão inconsequente que já tendo conseguido o feito de ressuscitar a força eleitoral de um PT semi-destruído, agora vai realizando a proeza de uma provável, possível, quem sabe eleição do Haddad.

Como corolário à esta tese reproduzo um daqueles textões gratuitos do Facebook, o qual ilustra e atesta perfeitamente o aqui exposto. É a cereja do bolo, vou ler como foi escrito, desculpe se não fizer sentido:

“E que comece o mimimi e as amizades de FB desfeitas… coisa que não tolero é hipocrisia, falso moralismo.

Meu voto é sim do BOLSONARO e sabe o porquê: 

  • – porque tô cansada de viver em um país onde bandidos tem direitos e a gente de bem tem que viver com medo e trancada; 
  • – porque tô cansada de viver em um país onde os costumes da família estão sendo deixados de lado; 
  • – porque estou cansada de ver noticiário com invasão de MST e tudo o mais de sem-qualquer-coisa por aí; 
  • – porque tô de saco cheio de ver meu país sendo invadido pelo povo que coloca comunista no poder e depois não aguenta e vem fazer baderna aqui; 
  • – porque tô cansada de ver nossos jovens perdendo espaço nas universidades por conta de cotas pra quem não tem base escolar, o problema é mais embaixo é na educação fundamental. 

Votar no Bolsonaro e se ele for eleito essas coisas serão resolvidas? Não sei, a única coisa que sei é que não dá mais para ser governado por guerrilheiro, assaltante de banco, analfabeto e bandido e essa vai ser minha opção para mudança.

Ah e ainda vai ter quem diga que eu não vivi o regime militar, é de fato não o vivi, mas se estou aqui é porque meus pais o viveram e sobreviveram, sabe por que? Porque enquanto o exército tava na rua colocando ordem meu pai estava trabalhado.”

Como há anos eu digo, a incompetência política e a estupidez humana se encarregam de ressuscitar ideologias arcaicas e amoralidades.

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Saúde, paz, grato pela companhia e até a próxima

Ex-Libris, inteligência com propriedade.